sexta-feira, janeiro 30, 2004

AMOR FEINHO
Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.


Adélia Prado



quinta-feira, janeiro 29, 2004

FÁBULA ANTIGA

No princípio do mundo o Amor não era cego;
Via mesmo através da escuridão cerrada
Com pupilas de Lince em olhos de Morcego.

Mas um dia, brincando, a Demência, irritada,
Num ímpeto de fúria os seus olhos vazou;
Foi a Demência logo às feras condenada,

Mas Júpiter, sorrindo, a pena comutou.
A Demência ficou apenas obrigada
A acompanhar o Amor, visto que ela o cegou,

Como um pobre que leva um cego pela estrada.
Unidos desde então por invisíveis laços
Quando a Amor empreende a mais simples jornada,
Vai a Demência adiante a conduzir-lhe os passos


António Feijó, Sol de Inverno, 1922



Trocava tudo o que tenho por aquilo que não tenho

quarta-feira, janeiro 28, 2004

(...)Liberdade não conheço outra senão a liberdade de estar preso a alguém
Cujo nome não posso ouvir sem um calafrio;
Alguém por quem me esqueço desta existência mesquinha,
Por quem o dia e a noite são para mim o que queira,
E o meu corpo e espírito flutuam no seu corpo e espírito
Como troncos de árvor perdidos que o mar submerge ou levanta
Livremente, com a liberdade amor,
A única liberdade que me exalta,
A única liberdade por que morro.
Tu justificas a minha existência:
Se não te conheço, não vivi;
Se morro sem te conhecer, não morro, porque não vivi.


Pablo Neruda, "Se o homem pudesse dizer"




NE:"Liberdade não conheço outra senão a liberdade de estar preso a alguém"

Será que consigo limar as grades desta solidão?

terça-feira, janeiro 27, 2004

VERSOS A UM COVEIRO
Numerar sepulturas e carneiros,
Reduzir carnes podres a algarismos,
Tal é, sem complicados silogismos,
A aritmética hedionda dos coveiros!
Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos
Da morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A génese de todos os abismos!
Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética
Dos tábidos carneiros sepulcrais:
Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números
A tua conta não acaba mais!

Augusto dos Anjos



Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Mário de Sá Carneiro

NE: Até gostava de ir de burro...


Custa 2500 euros e pode salvar muitas vidas. Ouço dizer que não se podia aplicar este eqipamento, porque estava a chover, ou seja, o atleta do Benfica teve azar, porque o tempo não ajudou. Eu não tenho qualquer tipo de formação médica, mas o aparelho que entrou em campo, transportado pelo jogador Petit, não era nada parecido com o da imagem, e merda, tinha de ser um jogador a ir buscá-lo...

domingo, janeiro 25, 2004


MORREU

Miklos Fehér

Um desfribilhador vale mais que uma vida, uma ambulância demora uma morte, país de merda o nosso. Escrevo este post sem saber a confirmação oficial da morte de Fehér, mas a morte esteve em Guimarães e entrou na minha casa em directo. Porra para isto.
Os velhos amantes despertam, trocam um olhar e adormecem nessa serenidade.



NE: A saudade do amor

sexta-feira, janeiro 23, 2004

QUE CORDA TOCOU

"Que corda tocou no meu coração
aquela rapariga com o colar de oiro
e seios de marfim
cujo corpo incendiava o rio:
que se ergueu do banho
como a lua
e escovou para trás
os cabelos de ébano
que lhe caíam até à cintura
e se passeou no negro crepúsculo -
oh minha alma,
que corda tocou ela
que ainda estou a tremer."

Chandidãs


NE: Que calor!!!!

quinta-feira, janeiro 22, 2004

This is America!

NE: NYC. Spanish Harlem

quarta-feira, janeiro 21, 2004

Sento-me

Levanto-me

Deito-me

terça-feira, janeiro 20, 2004


NE: Um domingo na companhia de Bosch.

segunda-feira, janeiro 19, 2004



NE: Que ideia deliciosa...
"When I Fall In Love"

"When I fall in love
It will be forever
Or I'll never fall in love

In a restless world
Like this is
Love is ended before it's begun
And too many
Moonlight kisses
Seem to cool in the warmth of the sun

When I give my heart
I give it completely
Or I'll never give my heart

And the moment I can feel that you feel that way too
Is when I fall in love with you"

Completely

NE: Fantoche!

sexta-feira, janeiro 16, 2004

Libera Me
Livrai-me, Senhor
De tudo o que for
vazio de amor.

Que nunca me espere
Quem bem me não quer
(Homem ou mulher)

Livrai-me também
De quem me detém
E graça não tem,

E mais de quem não
Possui nem um grão
De imaginação.


Carlos Queirós

NE:
Obrigado, pelo obrigado.



NE: Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias"(...)

Ruy Belo

Sobre o lado esquerdo
De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.
No segundo caso, o homem que não dorme pensa: " o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração".

Carlos de Oliveira

Quando era criança sempre quis ter um irmão, tinha uma irmã, mas o que eu desejava mesmo era um irmão, para brincar aos índios e cowboys , jogar à bola, alguém que sentisse prazer nas mesmas coisas do que eu. À falta de irmão, tive um "amigo imaginário", não era um qualquer, eu falei, durante muitos anos, com o Menino Jesus.
Nunca mais pensei nisso, até que encontrei o irmão que sempre desejei ter.


Nota do Editor: Obrigado Menino Jesus!

quarta-feira, janeiro 14, 2004

Refugio-me em mensagens cifradas.

Nota do Editor: Desembucha, URSO!!!!!

terça-feira, janeiro 13, 2004



NE: I miss you


NE: Tenho dúvidas...

domingo, janeiro 11, 2004

Não foi simples gostar do que sou, vivi uma adolescência conturbada, era o mais franzino, não era bonito (ainda não sou), não tinha nenhuma característica que me evidenciasse dos demais, bastante fechado, demasiado sensível, não era um aluno brilhante, tudo desvantagens quando se frequenta o ensino secundário. Foi este o meu trajecto, de “teenager”.

A descoberta da capacidade de amar e também de sofrimento, transformou-me e percebi outras coisas, que um abraço pode ser melhor que uma “queca” (e o sexo pode ser fantástico, mas não é isso que em última análise fica); a beleza, e agora "mergulho" no cliché, é muito mais do que o exterior, como um amigo diz – “o escafandro não vale nada”, rasga-se e estraga-se, agora nós como pessoas é que não o podemos fazer, temos de estar sempre a cuidar do que nos é mais precioso, sairmos sempre de consciência tranquila, sentirmo-nos bem com o que somos. Gosto do que sou, sei que quando estou mal, estou mesmo mal, mas quando estou bem... quando estou bem sou capaz de ser feliz, verdadeiramente feliz, o estranho é que nem percebi, mas sou, mas fui...
Neste momento, as pessoas que gravitam em torno de mim, ou eu em torno delas, podiam ser, fisicamente, uns monstros e eu não me ralava, mas não, por vezes, tenho o carro lotado só de mulheres belíssimas, sorrio... e penso – mas o que é que se está a passar?



“(...)bem podia eu prescindir de vez do oxigénio exterior, alinhavando odes até ao óbito, que jamais estaria à altura do poema que és.”
in OSedentário

Nota do Editor: Ainda sei o que é uma mulher bonita
"Sono escuro, enorme,
A cobrir-me a vida:
Dorme, esperança, dorme.
Tão apetecida!

Não vejo ninguém,
Já perco a memória
Do mal e do bem ...
Ai que triste história!

No fundo da vala,
O berço que sou
Alguém mo embala:
Caluda, calou!"

Paul Verlaine


NE: Acorda!

sábado, janeiro 10, 2004

Preia-mar, baixa-mar, ao sabor das marés e das lágrimas.


NE: Solidão

sexta-feira, janeiro 09, 2004

Como num orgasmo, doce e amargo, suave e brutal; gravava, marcava-te,
mordia-te! És minha!



NE: (...)Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?

Fernando Pessoa

BITÁCULA
Não conhece a arte de navegar
quem nunca navegou no ventre
de uma mulher, remou nela,
naufragou
e sobreviveu numa das suas praias


Cristina Peri Rossi



NE: Tantos...
Saudades. De casa, de quem amamos, de brincar, de ser criança, de ser irresponsável, de amar, de alguém que nos fez bem, de alguém que nos magoou, da palmada da mãe, do beijo da mãe, do olhar do pai, das histórias do pai, do chapéu do avô, dos olhos da avó, da panela de ferro no fogo, do barroco de granito, do cão, das galinhas, da aspirina com açúcar, da irmã que me roía as unhas, das aulas “chatas”, de jogar à bola no recreio, dos bons professores e dos loucos, da horta, da ribeira, dos burros, do tear, do frio, do calor, das histórias de lobisomens, do leite ainda quente da vaca, dos amigos de infância, dos novos amigos, dos livros dos Cinco, dos Sete, do Verne e do Dumas.

As memórias alimentam a saudade, o tempo engorda-a e eu cultivo-a.


P.S. Precisei de uma desculpa para "publicar" esta fotografia, se a memória não me trai, é a primeira de Lartigue, andava louco para a colocar no blog

NE: Mais outro transplante, fiz-lhe umas enxertias, para se ambientar a este habitat mais estéril

quinta-feira, janeiro 08, 2004

Cansado de respirar, os amigos filtram-me o oxigénio, inspiro o que dizem - "Abracei o meu pai, ele pensava que lhe queria pedir alguma coisa... já há tanto tempo que o queria fazer..." - Para mim, foi como se também o tivesse feito, senti o abraço da ternura, bebi as lágrimas de mel.


Nota do Editor: Eu sou a figura pequenina que está junto ao telefone... é como se fosse...

quarta-feira, janeiro 07, 2004



NE: Há Marte e Marte, há ir e fugir... estou com vontade de mudar de ares.
Contras: É longe, mas os meus sonhos parecem tão distantes...
Prós: Os sonhos viajam à velocidade da luz.

terça-feira, janeiro 06, 2004



NE: MARTE em 3D

segunda-feira, janeiro 05, 2004

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

Clarice Lispector




NE: O tempo passa e a arte fica
Longfellow
CANÇÃO GRATA

Por tudo o que me deste:
-Inquietação, cuidado,
(Um pouco de ternura? É certo, mas tão pouco!)
Noites de insónia, pelas ruas, como um louco...
-Obrigado, obrigado!

Por aquela tão doce e tão breve ilusão,
(Embora nunca mais, depois que a vi desfeita,
Eu volte a ser quem fui), sem ironia: aceita
A minha gratidão!

Que bem me faz, agora, o mal que me fizeste!
-Mais forte, mais sereno, e livre, e descuidado...
Sem ironia:-Obrigado, obrigado
Por tudo o que me deste!


Carlos Queirós

P.S. OBRIGADO! MUITO OBRIGADO!

Nota do Editor:

domingo, janeiro 04, 2004

Devia fazer o balanço do ano que passou. Mas nem sei se acredito em balizas temporais fixas – ano novo, vida nova. Sou alguém um pouco melhor do que era, tento melhorar como pessoa, esse é o meu caminho; o passado e o futuro não podem ser o meu desespero, têm de ser os meus amigos que me apoiam e os amigos olham-se com carinho.
Chorei muito em 2003, não sei se o vou continuar a fazer, mas não quero perder essa sensibilidade que estava afogada, amordaçada, numa vida cinzenta, era a minha caverna, tive de ser expulso para ver a realidade. Mesmo a cinzento, podemos ver muitos tons...
Para 2004, quero um estojo de aguarelas como um que tive na infância, nunca tive coragem para o utilizar, abria-o e ficava a ver os vários tons de azul, os laranjas, os verdes e pintava com a imaginação.



Nota do Editor: Vou encontrar a minha caixa de aguarelas!

quinta-feira, janeiro 01, 2004

HODIE


Nota do Editor: Hoje!