quarta-feira, setembro 28, 2005


Steve McCurry
Dal Lake, Kashmir, 1999

FOUR SORROWS
Many rivers run
Down to many seas.
All my cares are one:
On what river of these
Could my heart have peace?

Two banks to each river.
None where I may stray
Hearing the rushes shiver
And seeing the river ever
Pass, yet seem to stay.

Maybe there is another
River, but far in Me.
There I may meet the Brother
Of my eternity.
In what God will this be?

Nothing; all the leaves
Fallen from the tree.
Many a river cleaves
Its way past what grieves
To what grieves in me.

FERNANDO PESSOA, English Poems I

terça-feira, setembro 27, 2005


Steve McCurry
Porbandar, Gujarat, India 1983

segunda-feira, setembro 26, 2005


Steve McCurry
Kabul, Afghanistan, 1992

MEDO
"o medo dos olhos que
me olham
na rua,

medo do que serei:
não me imagino ninguém
sólido,
só prevejo
terrores na madrugada
baça,
escrevendo urgências
de fuga...

só medo!
medo do tempo
gotejando
gelado,
no meu corpo transido,
pancada a pancada,
de uma noite sem
cor.

tremo em vertigens
de queda livre.
sou medo de tudo!
do sono,
do sonho, da vigília sombria,
medo da vida e da morte,
da noite e do dia,
medo de mim e dos outros,
e desta dor vazia.

nada mais.
sou só isso:
amontoado disforme
de terrores:
fragilidade puída
de moribundo,

farrapo seco
e um vento quente de agosto
está a trazer as chamas
para aqui."

António Maga

NE: Prometo que é o último texto depressivo... mas casou tão bem com a fotografia...
este poema é desta cor... pelo menos é assim que o vejo.

domingo, setembro 25, 2005


Steve McCurry
Loikaw, Burma 1995

DA AMIGA
"alguma inquietação nestes raros encontros. a sua fuga das minhas palavras. centro: dor e morte, exaspera-me um pouco, refugia-se logo num caudal de histórias de colegas doentes, alunos promissores, de tias e sobrinhas, duma criança vizinha...

se nos víssemos com mais frequência, talvez conseguisse sacudir esta compressão que sinto ao falar... tenho medo de a magoar. Sei-lhe a fragilidade. Tenho que manter uma atenção extrema, usar outro alfabeto, que não o do meu teatrinho quotidiano. Esforço-me por não usar expressões obscenas, não usar a brusquidão habitual, quando me apetece acabar uma conversa e ficar sozinho...

é a pessoa por quem senti, talvez sinta ainda, algo de genuíno e profundo, uma comunhão sincera, nesta caminhada ácida que é a minha vida.

mas estou mais degradado. receio que a impaciência transborde e magoe quem tanto gosta de mim... por outro lado, tão viciado nas minhas feridas abertas, ciosamente abertas por uma lucidez que as mantém infectadas e me fazem estar quase sempre sozinho, temo que a emoção e o calor que sinto perto dela me paralisam num quase imobilidade de animal espancado...

e o medo de rebentar numa crise de choro, perto dela...

(...) e eu digo que tenho os meus momentos felizes, os meus prazeres. os livros. a música. o cinema. longos passeios solitários perto do mar. que isso me basta... que o contacto com as pessoas, em geral, me causa uma mal disfarçada aversão...

e separámo-nos com a tristeza de sempre... ambos sabemos que o próximo encontro será muito tempo depois...

ANTÓNIO MAGA

NE: Mais outro grande autor português.

quarta-feira, setembro 21, 2005



Pieter Bruegel (about 1525-69)
The Tower of Babel, 1563
Kunsthistorisches Museum Wien, Vienna

terça-feira, setembro 20, 2005


Steve McCurry
TIBET, 2000. A boy walks through barley fields near Kandze.
Magnum Photos


Não é verdade a tua solidão. A um canto,
do lado de fora, o meu coração espera:
fénix dolorosa, consome-se e renasce,
fiel. Quem sabe,
quando abrires uma fresta na tua porta,
alegrarte-ás vendo-o aí, guardando
essa luz que se alastrará por rios sem fim
de uma geografia desconhecida:
e só os escolhidos entenderão.

Lya Luft

segunda-feira, setembro 19, 2005


WRIGHT, Joseph
Indian Widow, 1785
Derby Museum and Art Gallery

Somewhere over the rainbow, way up high
There's a land that I heard of, once in a lullaby
Somewhere over the rainbow, skies are blue
And the dreams that you dare to dream, really do come true
Someday I'll wish upon a star,
and wake up where the clouds are far behind me

Where troubles melt like lemon drops
,
away above the chimney tops
That's where you'll find me
Somewhere over the rainbow, bluebirds fly
Birds fly over the rainbow, why then, oh why can't I
If happy little bluebirds fly beyond the rainbow, why, oh why can't I ?

NE: Este domingo, falei com um anjo, ferido de dor, mas que, mesmo assim, conseguiu trazer a alegria que me estava a faltar na última semana.
OBRIGADO PELOS DOIS !!!!

sexta-feira, setembro 16, 2005


Alphonse Mucha, 1860-1939
Collage

NE: Nostálgico

terça-feira, setembro 13, 2005


YAYOI KUSAMA
Eight Places for Burning Soul, 2005


YAYOI KUSAMA
Eternity-Modernity, 2005


YAYOI KUSAMA
2004

domingo, setembro 11, 2005


Templo de Philae

NE: 11 de Setembro

Steve McCurry
September 11, 2001. Collapse of W.T.C. Tower 1
Magnum Photos

NE: 11 de Setembro

sábado, setembro 10, 2005


AFGHANISTAN. Kandahar. Taliban portraits. 2002
Colection Thomas DWORZAK
Magnum Photos

"Timidez"
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

- e um dia me acabarei.

Cecília Meireles

terça-feira, setembro 06, 2005


Salvador Dali
La persistence de la Memoire


Uma conquista constante
pelo inconstante
Uma conquista diária
pela eternidade

O caminho do carinho e da ternura

O caminho do carinho O caminho do carinho O caminho do carinho O caminho do carinho O caminho do carinho O caminho do carinho O caminho do carinho O caminho do carinho O caminho do carinho O caminho do carinho O caminho do carinho O caminho do carinho




Esmaga-me a tua ausência na minha presença


Quando durmo contigo, a tua expiração é a minha inspiração, o suor é o nosso.


NE: São alguns posts que estavam nos drafts, alguns já há bastante tempo...

sábado, setembro 03, 2005



Sir Joshua Reynolds 1723-1792
A Child's Portrait in Different Views: `Angel's Heads' ~
Tate Gallery

NE: Catarina Adão é cega e surda, tem sete anos. Nasceu surda e perdeu a visão aos quatro anos, ela não percebeu porquê, nem eu.
Pode não saber falar, nem ver, mas sabe o que é o amor da sua mãe.

P.S. Amanhã na 2: no programa Consigo.