Ecce Uomo
Escola Portuguesa secúlo XV
Museu Nacional de Arte ANtiga
Querido Pai
O teu pai morreu quando tinhas quatro anos, das primeiras memórias que tens é a da sua morte, mas não foi isso que fez de ti menos pai, soubeste sê-lo.
Nunca soube de quem gostavas mais, se de mim, se da Bela, esse é talvez maior elogio que te posso dar como pai, o teu amor era dividido em partes grandiosas que para nós eram iguais, grandiosas mas iguais.
A palavra pai era das que mais gostava de dizer, chamava-te: “Pai!” e respondias sempre, nunca me mandaste esperar, nunca disseste que não tinhas tempo, nunca arranjaste desculpas para não ouvires, estiveste sempre presente, tinha tanta coisa para dizer, tinha tanta coisa para ouvir, tinha tanta coisa para aprender, e esta vida não chegou.
Já não consigo pronunciar a palavra pai da mesma forma, já não respondes, isso mudou para sempre.
Um dia queria que me recordassem pelo amor que dou aos outros, nada mais importa, foi talvez a lição mais importante que aprendi contigo.
Lembras-te de um “até já” que demos quando estavas no hospital? Nunca precisámos de palavras para dizer que nos amávamos.
Até já, pai.