quinta-feira, novembro 15, 2007


Ophelia
Sir John Everett Millais, 1829-1896
Tate Gallery, London

Querido Pai

Não digo nada há tempos, mas sabes que penso em ti constantemente. Ainda não sinto que morreste, ainda ando alienado, ainda não sei a falta que me fazes, ainda não percebi a perda, ainda não tenho saudades (ainda estás comigo), ainda sinto o teu cheiro, ainda ouço a tua voz, ainda sinto o teu toque, ainda sinto a tua presença, ainda não chorei.
Sabes que te adoro.

Beijinhos

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

Eugénio de Andrade

3:14 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:

o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs

e eu. depois, a minha irmã mais velha

casou-se. depois, a minha irmã mais nova

casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,

na hora de pôr a mesa, somos cinco,

menos a minha irmã mais velha que está

na casa dela, menos a minha irmã mais

nova que está na casa dela, menos o meu

pai, menos a minha mãe viuva. cada um

deles é um lugar vazio nesta mesa onde

como sozinho. mas irão estar sempre aqui.

na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.

enquanto um de nós estiver vivo, seremos

sempre cinco.



José Luís Peixoto, A Criança em Ruínas



lamento,

D.F.

5:59 da tarde  

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