domingo, março 05, 2006


Grizzly bears feast on salmon at Brooks Falls on the Katmai Peninsula.
Photographer: Joe Pontecorvo


"Prezado companheiro "urso",

Sabia, há muito, que integrava a categoria dos mamíferos de grande porte. Confesso, porém, que nunca me havia observado como um "urso". É certo e sabido que sou suficientemente hirsuto e rotundo para ascender à categoria de "grizzly". Com efeito, aprecio o "salmão" e as "bagas silvestres" que - cada vez mais - escasseiam nesta urbe muito pouco florestal. Mas não é por aí, decididamente...

Aceito ser "urso", amigo. Mas sou "urso" porque hiberno. Ou melhor: somos "ursos" porque hibernamos. Bem sei que não abandonamos o estadode consciência durante os meses de Inverno, de papo pleno e camada adiposa bem fornecida. Bem sei que envidamos todos os esforços para nos mantermos em estado de alerta durante as 365 jornadas do ano. Sucede que, quando confrontados com exemplos daquilo que se entende ser uma "MULHER", hibernamos. Para todos os efeitos, entramos em hibernação. O metabolismo altera-se, os ponteiros do relógio biológico funcionam quando querem, os olhos andam mais encharcados...

Esforçamo-nos, de uma forma assaz patética, para ostentar a pose do guerreiro que não tomba, quando a posição que ocupamos no "campo de batalha" - estamos quase por terra, meu amigo, e com a calcinha arreada... - indicia precisamente o contrário.
Padecemos de uma maleita absoluta e incontestavelmente anacrónica: a generosidade da alma. Não logramos, tu e eu, apurar a equação exacta. E damos tudo, quase sempre sem solicitar o "soldo" ou o "maná" correspondentes. Somos diferentes, Paulo. Contudo, neste capítulo, somos fruto da mesma casta. Somos uva sumarenta e saborosa, porém frágil. E quando a "chuva" molha o "Verão", desfazemo-nos numa explosão de sumo açucarado. À margem do calendário das vindimas...

As histórias que estamos a viver não têm paralelo, bem sei. Tu és "urso" que experimentou - e de que maneira... - o favo de mel. Eu, "urso" mais novo mas nem por isso menos sofredor, ainda ando a ver se afasto as abelhas. Garanto-te, ainda assim, que ambas as histórias podem ter um final feliz e quiçá fecundo. Porque se os favos de mel se nos apresentarem convidativos, não hesitaremos em transferi-los para as nossas colmeias. E aqui, volto a dizê-lo, somos iguais. E ainda bem..."

Um abraço de "urso" "

NE: Mais arquivos de e-mails, este de 5 Outubro de 2003. Esta resposta veio no seguimento de um desabafo meu em que assumi ser um urso.