domingo, abril 30, 2006


Joseph Mallord William Turner 1775-1851
Buttermere Lake, with Part of Cromackwater, Cumberland, a Shower
Tate Gallery

Frida Khalo
Broken Column

NE: Uma exposição a não perder, uma vida de amor, dor e morte.

sábado, abril 29, 2006


Imogen Cunningham (1883-1976)
"The Dream", 1910

quarta-feira, abril 26, 2006


Sir John Everett Millais, Bt 1829-1896
The Knight Errant, 1870
Tate Gallery

AMOR
Aqueles olhos aproximam-se e passam.
Perplexos, cheios de funda luz,
doces e acercados, dominam-me.
Quem os diria tão ousados?
Tão humildes e tão imperiosos,
tão obstinados!

Como estão próximos os nossos ombros!
Defrontam-se e furtam-se,
negam toda a sua coragem.
De vez em quando,
esta minha mão,
que é uma espada e não defende nada,
move-se na órbita daqueles olhos,
fere-lhes a rota curta,
Poderosa e plácida.

Amor, tão chão de Amor,
Que sensivel és...
Sensível e violento, apaixonado.
Tão carregado de desejos!

Acalmas e redobras
e de ti renasces a toda a hora.
Cordeiro que se encabrita e enfurece
e logo recai na branda impotência.

Canseira eterna!
Ou desespero, ou medo.
Fuga doida à posse, à dádiva.
Tanto bater de asas frementes,
tanto grito e pena perdida...
E as tréguas, amor cobarde?
Cada vez mais longe,
mais longe e apetecidas.
Ó amor, amor,
que faremos nós de ti
e tu de nós?

Irene Lisboa

terça-feira, abril 25, 2006


Vitória da Samotrácia
Museu do Louvre

Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...

E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós

José Niza

quinta-feira, abril 20, 2006


Yann Arthus-Bertrand

Estrela da tarde
"Era a tarde mais longa de todas as tardes
que me acontecia
eu esperava por ti, tu não vinhas
tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca,
tardando-lhe o beijo, mordia
quando à boca da noite surgiste
na tarde tal rosa tardia
quando nós nos olhamos tardamos no beijo
que a boca pedia
e na tarde ficámos unidos ardendo na luz
que morria
em nós dois nessa tarde em que tanto
tardaste o sol amanhecia
era tarde de mais para haver outra noite
para haver outro dia.

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza.

Foi a mais bela de todas as noites
Que me aconteceram
Dos nocturnos silencios que à noite
De aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois
Corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa
De fogo fizeram.
Foram noites e noites que numa só noite
Nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles
Que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto
Se amarem, vivendo morreram.

Eu não sei, meu amor, se o que digo
É ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
E acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
Dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida
De mágoa e de espanto.
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
Para quem se quer tanto."

José Carlos Ary dos Santos

quarta-feira, abril 12, 2006


Mary Cassatt (1844-1926)
Baby Reaching for an Apple
Williams College Museum of Art, Massachusetts

"Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é."

Alberto Caeiro

Approaching Asteroid Itokawa
Credit: ISAS, JAXA
"Japan's JAXA space agency launched the Hayabusa mission to rendezvous with asteroid Itokawa. Last week, the small robotic Hayabusa spacecraft arrived at asteroid Itokawa and stationed itself only 20 kilometers away. Although a long term goal is to find out how much ice, rock and trace elements reside on the asteroid's surface, a shorter term goal is to determine the mass of the asteroid by measuring the attraction of the drifting Hayabusa spacecraft."

(Grito de Gomes Leal no céu:)
"Cansado de dormir no basalto
morri e meteram-me numa nuvem de elevador
E agora cá estou no céu alto
com uma estrela ao peito em vez de flor.

Mas qualquer dia dou um salto.
(Ou peço a um anjo que me transporte
para não quebrar as pernas.)

Estou farto de céu e quero mundo! Quero morte!
Quero dor! Quero tabernas!"

José Gomes Ferreira

terça-feira, abril 11, 2006


Green and Black Aurora Over Norway
Credit: Frank Andreassen

19
que o meu coração esteja sempre aberto aos
passarinhos que são segredos que a vida tem
o que que quer que cantem é melhor que saber
e se os homems não os ouvem os homens estão velhos

que a minha alma ande por aí faminta
e corajosa e sedenta e elástica
e mesmo se for Domingo que eu não tenha razão
pois quando os homens têm razão não são jovens

e que eu próprio não faça nada de útil
e que o meu amor por ti seja mais do que verdadeiro
não há tolo maior que aquele que não é capaz
de puxar o céu para cima de si com um sorriso

e.e. cumings

segunda-feira, abril 10, 2006


Pedro Oom, 1945

domingo, abril 09, 2006


Giorgio de Chirico.
Mystery and Melancholy of a Street
Private colection

EM TODAS TE ENCONTRO
"Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco."

MÁRIO CESARINY

quinta-feira, abril 06, 2006


GOYA Y LUCIENTES, Francisco de
La Maja Desnuda
Museo del Prado, Madrid

RIFÃO QUOTIDIANO
Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece

MÁRIO-HENRIQUE LEIRIA, "Contos do Gin-Tónico"

segunda-feira, abril 03, 2006


"Só me arrependo de outr'ora te não ter amado."

NE: "O projecto «Manuscritos de Pessoa em linha» inicia-se com a poesia de Fernando Pessoa em língua portuguesa, abrindo com o heterónimo Alberto Caeiro. O objectivo é ir colocando à disposição dos investigadores e do público em geral os documentos que constituem o espólio de Fernando Pessoa (BN Esp. E3), actualmente constituído por 105 caixas, que foi incorporado no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea (ACPC) em 1981."

domingo, abril 02, 2006


www.lomohomes.com/brunomiguel

NO MAR PASSA
"No mar passa de onda em onda repetido
O meu nome fantástico e secreto
Que só os anjos do vento reconhecem
Quando os encontro e perco de repente."

Sophia M. Breyner

NE: A Lomo é do meu primo Bruno... Que, soube agora, é um leitor deste blog.