domingo, fevereiro 29, 2004

Deixei te ter pena de mim, este é o ponto do não retorno.


NE: A vida é maior que o Espaço

sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Somos um país triste. O culto da tristeza, consubstanciado no fado e na saudade, arrasta-nos para um estado de alma diferente de outras culturas. A tristeza é fundamental, tão ou mais importante que a alegria, mas é necessário saber tomá-la em doses que não se tornem mortais, como um veneno, que em pequenas quantidades, pode ser benéfico. A grande questão é saber qual a "medicação" adequada - 50cl de lágrimas + 20 suspiros ao dia - será essa a dose correcta? Será que não se pode tornar uma droga? Será que num estádio de dependência extrema pode minar a felicidade?


NE: Os estigmas até podem ficar...

quarta-feira, fevereiro 25, 2004

A Eternidade vive-se no Presente.

domingo, fevereiro 22, 2004

Noite de Núpcias
Enquanto despia o fraque
junto ao leito de noivado
escapuliu-se-lhe um traque
de timbre aclarinetado...

A noiva olhou-o de lado,
e pôs-se com ar basbaque,
a remirar o bordado
das botinas de duraque...

Houve, após esse momento,
naquela noite de gala,
um duplo constrangimento.

E o noivo disse-lhe então:
"Oh filha, cu que não fala
é cu sem opinião..."

Augusto Gil



NE: Ouço cada opinião...
E agora???? Já não posso vir para aqui carpir...

Legenda: Formule pour ne pas manger d'excréments, Chapitre 52 du Livre des Morts, Museu do Louvre

"No túmulo de Minnakht, em Tebas, 1500-1450 a. C., e oito séculos antes que Roma fosse fundada, estão as carpideiras do Egito. Os romanos divulgaram oficialmente a indispensabilidade ritual das carpideiras, dividindo-as em duas classes: a Prefica, paga para cantar os louvores do morto, e a Bustuária, que acompanhava o cadáver ao local da incineração, pranteando-o estridentemente, segunda a tabela dos preços."
Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A

sábado, fevereiro 21, 2004

(...) Como se diz:
O incidente está encerrado.
A barca do amor quebrou-se
de encontro ao quotidiano.
Estamos quites os dois.
Para quê desfolhar o inventário
dos males, das feridas recíprocas?

Vladimir Maiakovski



NE: Ponto final!

sexta-feira, fevereiro 20, 2004

Ratatatatatatatata!!!!! Já está!!! Fica para aí, desgraçado...

A gazela que tu feriste
veio morrer debaixo dos tamarindos
perto do redil onde as minhas escravas
lavam as suas roupas.
Encontrámo-la ao entardecer
de regresso às nossas tendas.
Ainda estavam tépidos os seus membros,
e as suas pálpebras
não cobriam totalmente
os seus longos olhos tristes.
No pau da lança
cravada no seu flanco
reconheci a tua marca.
Serei eu como a gazela?
Por amor de Deus, responde-me, ó tu, cujo olhar
feriu o meu coração.


Norte de África, Tuaregues



Tenho um livrinho onde escrevo
O que me lembro de ti.
Esse livro é o meu enlevo
Ainda lá nada escrevi.

Fernando Pessoa

quinta-feira, fevereiro 19, 2004

- Mas o que é a saudade? - Perguntou a Menina do Mar.
- A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.


Sophia de Melo Breyner Andersen

NE: Todos leram "O Principezinho", mas quantos leram "A Menina do Mar"?
Hoje nevou em Lisboa. A neve veio dos Alpes Suíços, camuflada num envelope. Neste Natal, supliquei para que as ruas ficassem brancas, em vão, mas hoje...

NE: Thank you, my sweet, sweet Franzi

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Cuidado. O amor
é um pequeno animal
desprevenido, uma teia

que se desfia
pouco a pouco. Guardo
silêncio
para que possam ouvi-lo
desfazer-se
Casimiro de Brito

NE: ...

(...) - Queres morangos,
figos, amoras ou beijos...


Rui Cinatti
INCUBADORA
Era tão pequena a mão que
Nem o seu dedo mendinho

Conseguia agarrar. Pesava
Quinhentos gramas e respirava

Sem a ajuda do ventilador
O coração da sua mãe quase

Que não batia com receio de
Que ele sufocasse sob o peso

Do seu amor


Jorge Sousa Braga



NE: Um texto delicioso, um amor maior...
P.S. Mais uma enxertia de um blog comunitário, foi o meu presente de aniversário, espero que o destinatário tenha apreciado, eu adorei esta "manjedoura".

segunda-feira, fevereiro 16, 2004

LOGO QUE NASCI
Logo que nasci
Foi-me dada ordem
De me procurar.
Logo assim e aqui
Não vou ter descanso
Em nenhum lugar.

Natércia Feire



sexta-feira, fevereiro 13, 2004


What a sight!!!

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Depositei as minhas lágrimas na tua tristeza, ofereceste-me o mesmo, demos as mãos e afastámos a solidão, partilhámos uma dor inefável e fomos capazes de rir; Lisboa olhava-nos quando eu renasci.



NE: Esta é a minha dívida contigo, esta foi uma noite mágica

quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Cheguei a pensar que nem precisava de amigos. Amei mais cego que Homero, muito mais surdo que Beethoven.



NE: (...) vão depois pessoalmente levar-lhes os augúrios -O medetô san - que na prática significa "Graças a vós passei este ano com felicidade, concede-me o vosso apoio também para o próximo".
in Kioto, Yasunari Kawabata
Meus queridos amigos, se não fossem vocês...
Amigo, perdi o caminho. Eco: O caminho prossegue.
Há outro caminho? Eco: O caminho é só um.
Tenho de reconstituir o trilho. Eco: Está perdido e desapareceu.
Para trás, tenho de caminhar para trás! Eco: Nenhum vai lá ter, nenhum.
Então farei daqui o meu lugar, Eco: (A estrada continua),
Permanecerei imóvel e fixarei o meu rosto, Eco: (A estrada avança),
Ficarei aqui, ficarei para sempre. Eco: Nenhum se fica por aqui, nenhum.
Não consigo encontrar o caminho. Eco: O caminho prossegue.
Oh, os lugares porque passei! Eco: Essa viagem acabou.
E o que virá por fim? Eco: A estrada prossegue.

Edwin Muir

NE:

sábado, fevereiro 07, 2004

Chamo-me Menina do Mar e não tenho outro nome. Não sei onde nasci. Um dia uma gaivota trouxe-me no bico para esta praia. Pôs-me numa rocha na maré vaza e o polvo, o caranguejo e o peixe tomaram conta de mim.

Sophia de Mello Breyner Andersen


NE: Talvez um dia me ofereçam um desenho assim.

Um olhar, um riso, uma festinha, uma palavra e voilá... a paixão espalha-se pelo corpo e pelo cérebro. No momento em que somos anestesiados, mandam-nos contar - "Agora vai contar até dez de forma decrescente". - 10, 9, 8, 7, 6, 5... zzzzzzzzzzz - nunca chegamos ao zero, não nos apercebemos que já estamos adormecidos.



NE: Gostava de conseguir voltar a amar, só isso...

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.

A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.

O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o património de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.

Vinicius de Moraes



NE: A solidão molda-me
Marca-me com o seu ferrete
Aguça-me o olhar
Faz-me sair de mim
Procurar os outros
Legar neles o que sou

Eu procuro os outros, é o que me vale!

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

Um dia, quando estava a subir, caí.


NE: Foi exactamente assim que tudo se passou, a ascensão, a queda, o salvamento.



"He looked up at the broad yellow moon and thought that she looked at him".


Charles Kingsley, The Water babies
No ponto onde o silêncio e a solidão
Se cruzam com a noite e com o frio,
Esperei como quem espera em vão,
Tão nítido e preciso era o vazio.
Sophia de Mello Breyner Andersen



NE: Que lindo camelo que lá vem, lá vem, é um camelo que vai para Belém! Vou pedir ao senhor "cameleiro" que me deixe passar, tenho filhos pequeninos e não posso ficar. Passará, passará, mas alguém ficará...

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

O que desejei às vezes
Diante do teu olhar,
Diante da tua boca!

Quase que choro de pena
Medindo aquela ansiedade
Pela de hoje - que é tão pouca!

Tão pouca que nem existe!

De tudo quanto nós fomos,
Apenas sei que sou triste.


António Botto


NE: